Para Jorge, o esporte e o trabalho na RioSaúde compartilham o mesmo DNA: o cuidado com o próximo
Para muitos, o despertador às 4h da manhã marca o início de uma rotina cansativa. Para Jorge Luiz Pontes, de 40 anos, é a hora da largada. Maqueiro do Hospital do Andaraí, Jorge divide seu tempo entre os corredores da unidade de saúde e o asfalto das competições, onde desempenha um papel fundamental: o de atleta guia para pessoas com deficiência visual.
A história de Jorge com o esporte começou por necessidade. Após oito anos morando em Vitória (ES), ele retornou ao Rio de Janeiro pesando 122 quilos. O sedentarismo e a rotina exaustiva de trabalho haviam cobrado seu preço. Foi na corrida que ele encontrou o caminho de volta à saúde. Desde sua primeira prova, em 2015, a “Rio Antigo”, Jorge não parou mais. O que começou como uma atividade para perda de peso virou paixão. Hoje, ele ostenta um currículo de peso: três edições da São Silvestre, passagens pela Pampulha e provas em estados como Santa Catarina e Bahia. Em casa, mais de 400 medalhas e troféus contam a história de um homem que correu o Brasil para reencontrar a si mesmo.

Há oito meses, a trajetória de Jorge ganhou um novo propósito. Através de um amigo, ele conheceu o Instituto Atletas Guias enquanto treinava no entorno do Estádio Nilton Santos (Engenhão). Ao ver a sincronia entre guias e corredores cegos, Jorge sentiu que deveria ser voluntário. “A experiência foi transformadora. A sincronia e a confiança são fundamentais nessa relação, onde o guia se torna os olhos do atleta. A relação com eles é tão natural que, muitas vezes, esqueço que são deficientes visuais”, conta o maqueiro, que já tem metas internacionais no horizonte.
Para Jorge, o esporte e o trabalho na RioSaúde compartilham o mesmo DNA: o cuidado com o próximo. Seja conduzindo uma maca no Hospital do Andaraí ou guiando um atleta em busca de um recorde pessoal, o compromisso é com a vida e com a autonomia. Atualmente, ele guia um grupo de nove atletas (cinco mulheres e quatro homens) e a rotina é intensa: treina antes do plantão quando a carga é leve e, após o expediente, quando o treino exige mais volume.
Um dos principais parceiros de Jorge nas pistas é Lucas Alberto Passos, 38 anos. Ele foi nadador profissional por dez anos antes de migrar para a corrida e destaca que o papel do voluntário vai muito além da técnica. “A corrida para o deficiente visual se transforma em uma atividade em dupla, coletiva. Essa parceria é gratificante pois criamos laços de amizade e apoio mútuo. Para nós, essa experiência proporciona uma sensação única de inclusão social e liberdade”, explica Lucas. Juntos, eles já superaram desafios como a Meia Maratona e a emblemática Corrida da Ponte, que cruza a Baía de Guanabara.
Jornalista: Marcelle Corrêa












