
No município do Rio de Janeiro, o Sistema Único de Saúde (SUS) não é apenas um espaço de cuidado, mas também um grande campo de ensino e pesquisa. No Dia do Estudante, comemorado em 11 de agosto, a RioSaúde destaca o papel dos seus programas de residência, de estágio e Jovens Aprendiz, que abrem portas para milhares de estudantes todos os anos, unindo teoria e prática na formação de profissionais comprometidos com a saúde pública.
Somente no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla (HMRG), em 2025, mais de 1,3 mil estagiários passaram pela unidade no primeiro semestre — 495 deles ainda em atividade — além de 105 residentes em especialidades como terapia intensiva, clínica médica, dermatologia, cirurgia geral, anestesiologia e radiologia, e em áreas não médicas como enfermagem, fisioterapia e farmácia hospitalar.
O Gazolla como referência em ensino e prática
Para Danielle Furtado, da Divisão de Ensino e Pesquisa do HMRG, a presença de estudantes é vital. “Eles trazem novas perspectivas e abordagens inovadoras, além de promover um ambiente mais colaborativo e humano. A interação entre diferentes níveis de experiência resulta em um aprendizado contínuo, onde residentes e estagiários podem aprender diretamente com profissionais qualificados”.
O hospital oferece desde estágios obrigatórios até residências médicas e multiprofissionais, além de programas de educação continuada. Essa diversidade garante que o estudante desenvolva não apenas competências técnicas, mas também habilidades de comunicação, tomada de decisão e empatia com o paciente e sua família.
Residência médica e o impacto na qualidade da assistência
A coordenadora da Comissão de Residência Médica do HMRG, Lúcia Helena Vasconcelos, reforça que a integração entre ensino e assistência traz ganhos diretos para o SUS. “A presença de estudantes e residentes torna o serviço mais humano e qualificado, renova o ambiente com novas ideias e olhares, desafiando a equipe a qualificar continuamente a assistência. Profissionais se tornam mais vigilantes em suas condutas, e o paciente ganha em dignidade e qualidade no atendimento.”
Para a coordenadora, o papel do preceptor vai muito além do acompanhamento técnico, sendo responsável tanto pela orientação clínica quanto pela condução de trabalhos científicos. “Ele é exemplo de postura ética e humanização. Muitos ex-residentes, hoje, atuam como colegas e preceptores, perpetuando esse ciclo de aprendizado.”

Números que mostram a dimensão do ensino na RioSaúde
Na rede de urgência e emergência gerida pela RioSaúde, a atuação educacional é ampla. Segundo Ana Carolina Xavier, do Centro de Estudos da Diretoria Executiva Assistencial (DEA), atualmente são 152 estagiários em áreas como medicina, enfermagem, técnico de radiologia e serviço social, além de residentes em enfermagem alocados na UPA Engenho de Dentro e no CER Barra. Entre julho de 2023 e julho de 2025, a rede recebeu, em média, 980 estagiários por ano.
Ela explica que o processo para atuar como estudante na RioSaúde envolve convênios entre instituições de ensino e a Prefeitura do Rio. Já os residentes são encaminhados oficialmente pela Secretaria Municipal de Saúde por meio de carta de apresentação.
O aprendizado na visão de quem vive o dia a dia

Para quem está no início da carreira, cada dia é uma oportunidade de evolução. A residente em clínica médica no Gazolla, Beatriz Gonsalves, relembra um caso marcante: um paciente idoso em abandono social que ganhou não só cuidados médicos, mas também atenção e dignidade. “Às vezes, não temos mais o que fazer pela doença, mas pelo paciente sempre teremos”, afirma. Beatriz destaca ter aprendido a oferecer um atendimento mais humanizado e empático, considerando as vulnerabilidades sociais dos pacientes.

A acadêmica de medicina Ana Beatriz Monteiro Campos, que atua na UPA Rocha Miranda, aponta que, na saúde pública do Rio, aprendeu sobre a importância do cuidado multidisciplinar e da adaptação entre teoria e prática. A cada dia, ela se sente mais preparada para atuar no SUS. ” Estou tendo a oportunidade de acompanhar de perto como funciona o SUS. Sinto-me cada vez mais apta para trabalhar com as recomendações que estou recebendo.”
Já a jovem aprendiz Samyra Ketllyn Domingos, de 15 anos, encontrou na RioSaúde a primeira experiência profissional e descobriu novos caminhos para o futuro, inclusive na comunicação. Ela ressalta que tem melhorado muito sua comunicação, superando a timidez e aprendendo a se expressar melhor. “Tinha medo de decepcionar, já que é minha primeira experiência profissional, mas acabou sendo uma das melhores escolhas da minha vida.”
O papel dos preceptores e tutores

Preceptores e tutores são a ponte entre o conhecimento acadêmico e a realidade do serviço público. Para a médica Cibele Pimentel, da UPA Rocha Miranda, a troca com estudantes é uma via de mão dupla. “O preceptor ensina, mas também aprende. Nosso papel é orientar, supervisionar e, principalmente, estimular o raciocínio clínico do residente. Mais do que transmitir conhecimento, buscamos formar profissionais seguros, éticos e capazes de tomar decisões que impactam diretamente na vida dos pacientes.”
O tutor de enfermagem clínica cirúrgica no Gazolla, Hugo de Andrade Peixoto, reforça que o ensino no ambiente hospitalar reduz o mecanicismo e eleva a qualidade da assistência. Ele enfatiza que o preceptor tem um papel essencial na formação dos residentes, atuando como elo entre a teoria e a prática, orientando um cuidado mais individualizado ao paciente. “Esse intercâmbio entre formação e prática transforma a rotina do serviço, tornando-o menos mecânico e mais focado na qualidade da assistência”
Para a estudante de enfermagem Julliana Monteiro, a experiência na unidade tem sido positiva e surpreendente. Para ela, a residência é um divisor de águas, proporcionando aperfeiçoamento prático, aprendizado aprofundado e preenchendo lacunas deixadas pela graduação, preparando-a melhor para o mercado de trabalho. Já Josilene Oliveira Lopes acredita que, após essa vivência, terá mais aptidão e autonomia profissional. A estudante de enfermagem ressalta que, na rede pública de saúde, aprendeu especialmente sobre a importância da ética e da dedicação ao cuidado. “Essa vivência, com certeza, vai impactar profundamente minha formação, oferecendo uma visão realista da profissão que escolhi.”

Desafios e perspectivas
Entre os pontos destacados por gestores e preceptores estão a importância de valorizar cada vez mais a carreira no SUS e de fortalecer a integração entre teoria e prática na formação. E, mesmo com desafios inerentes a qualquer grande sistema de saúde, o compromisso é unânime: formar profissionais capazes, éticos e humanos. “O SUS me deu tanto, que me sinto na obrigação de retribuir. Acredito e exalto o SUS todos os dias”, resume Lúcia Helena Vasconcelos.
Hoje e sempre, a RioSaúde reforça que cada estágio, residência ou programa de aprendizagem é mais do que um passo na carreira, é parte da construção de um sistema de saúde público mais qualificado, humano e comprometido com a população.
Jornalista: Erika Junger
Foto: Ronan Cortes, Felipe Correia e Vinícius Ferreira