Dia da Imunização: vacinar é um ato de responsabilidade coletiva

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Publicado em 09/06/2025 - 19:06  |  Atualizado em 10/06/2025 - 09:53
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece gratuitamente, por meio do SUS, vacinas que protegem milhões de brasileiros (foto: divulgação)

Celebrado em 9 de junho, o Dia da Imunização tem como principal objetivo conscientizar a população sobre a importância de manter a caderneta de vacinação atualizada em todas as fases da vida — da infância à terceira idade. Considerada uma das estratégias mais eficazes e seguras de prevenir doenças graves, como sarampo, rubéola, caxumba, tétano, poliomielite, meningite e gripe, as vacinas salvam milhões de vidas todos os anos.

No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, é referência mundial. Ele oferece gratuitamente, por meio do SUS, vacinas que protegem milhões de brasileiros. O calendário contempla crianças, adolescentes, adultos, gestantes e idosos.

Para marcar a data, a RioSaúde conversou com a médica infectologista Paula Molinari, coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar e do Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, sobre os desafios, avanços e mitos que ainda cercam a vacinação.

1. Qual é a importância do Dia da Imunização para a saúde pública?
P.M.: Essa data serve como um lembrete importante sobre a relevância das vacinas na prevenção de doenças.

2. Por que é fundamental manter o calendário vacinal em dia, mesmo quando a pessoa está saudável?
P.M.: Por diversas razões que beneficiam tanto o indivíduo quanto a comunidade, como:

Prevenção proativa – estar saudável não significa estar imune a futuras infecções. As vacinas preparam nosso sistema imunológico para combater doenças antes mesmo de sermos expostos a elas;

Proteção coletiva – vacinar-se protege também aqueles ao seu redor, especialmente os que não podem ser vacinados devido a condições médicas ou idade, como imunossuprimidos ou bebês pequenos. E contribui para a imunidade de rebanho;

Redução de complicações e hospitalizações – mesmo que uma doença não seja fatal, ela pode causar complicações sérias. Vacinas ajudam a minimizar esses riscos;

Contenção de surtos – ajuda a prevenir a propagação de doenças e o controle surtos antes que se tornem epidemias;

Atualização de proteção – algumas vacinas precisam de reforço ao longo do tempo para manter a eficácia.

3. Como as vacinas funcionam no organismo? 
P.M.: Funcionam como um “treinamento” para o sistema imunológico. Elas usam partes inativas ou enfraquecidas dos vírus ou bactérias para ensinar o corpo a se defender:
Imitação do invasor – as vacinas contêm versões enfraquecidas ou inativas dos germes que causam doenças ou partes desses, como proteínas. Elas não causam a doença, mas imitam o invasor de forma segura;

Treinamento do sistema imunológico – quando a vacina é administrada, ela “ensina” o nosso sistema imunológico a reconhecer e combater os germes. É como um treinamento militar para as células de defesa do corpo;

Produção de anticorpos – após a vacinação, o corpo produz anticorpos. Esses são como soldados que ficam de prontidão para atacar o invasor real, caso ele apareça no futuro;

Memória imunológica – o sistema imunológico lembra do invasor. Isso significa que, se você for exposto ao vírus ou bactéria no futuro, seu corpo pode responder rapidamente e evitar que você fique doente;

Reforços para proteção duradoura – algumas vacinas requerem doses de reforço para “lembrar” o sistema imunológico e manter a proteção eficaz ao longo do tempo.

4. Quais doenças ainda representam risco à saúde no Brasil caso a vacinação seja negligenciada?
P.M.: Sarampo – muito contagioso, pode causar complicações graves, como pneumonia e encefalite. Nos últimos anos, casos de sarampo reapareceram em várias regiões devido à queda nas taxas de vacinação;

Poliomielite – erradicada no Brasil, mas ainda presente em outros países, a poliomielite pode reaparecer se a vacinação não for mantida. Pode causar paralisia permanente e até ser fatal;
Difteria e coqueluche – doenças respiratórias que podem ser graves, especialmente em crianças;

Febre amarela – com o Brasil sendo área endêmica, a vacinação é crucial para evitar surtos, especialmente em regiões de risco;

Caxumba e rubéola – embora menos comuns, essas doenças podem ter complicações sérias. A vacinação é a melhor forma de prevenção.

5. Muitas dessas doenças voltaram a causar preocupação. O que tem contribuído para isso?
P.M.: É importante destacar que falamos de retorno de casos. Houve retorno de doenças como o sarampo e ameaça de reintrodução da poliomielite. Essas são preocupações reais em saúde pública, e vários fatores têm contribuído para isso:

Queda na cobertura vacinal – é um dos principais fatores;

Desinformação e hesitação vacinal – a disseminação de fake news e boatos têm levado muitas pessoas a hesitar ou recusarem a vacinação;

Mobilidade global – o aumento das viagens internacionais facilita a propagação de doenças de áreas onde elas ainda são comuns para onde estavam controladas;

Crises humanitárias – conflitos e instabilidades afetam programas de imunização em algumas regiões, deixando populações vulneráveis.

6. Como o Programa Nacional de Imunizações (PNI) contribui para o controle de doenças no Brasil?
P.M.: O PNI é uma das iniciativas mais bem-sucedidas do Brasil quando se trata de saúde pública. Desde sua criação em 1973, o PNI tem desempenhado um papel crucial no controle e na erradicação de várias doenças infecciosas no país. Vejamos:

Oferece um calendário de vacinação abrangente e gratuito, garantindo que toda a população tenha acesso às vacinas essenciais. Isso ajuda a manter altas taxas de imunização e a prevenir surtos;

O Brasil erradicou doenças como a poliomielite e controlou o sarampo e a rubéola.

O programa tem a capacidade de implementar campanhas de vacinação emergenciais em resposta a surtos, controlando rapidamente a disseminação de doenças;

Com um sistema robusto de monitoramento, o PNI consegue avaliar a eficácia das vacinas e ajustar estratégias conforme necessário;

Educa a população sobre a importância da vacinação, combatendo a desinformação e a hesitação vacinal.

7. Por que vacinar as crianças desde os primeiros meses de vida é tão importante?
P.M.: Porque os bebês têm o sistema imunológico ainda em desenvolvimento, tornando-os mais vulneráveis a infecções. Vacinar nos primeiros meses:
Garante proteção precoce – as vacinas oferecem proteção desde cedo, prevenindo doenças que podem ter consequências sérias;

Prevenção – doenças como coqueluche e sarampo podem causar complicações graves em crianças pequenas, incluindo hospitalizações e até riscos fatais;

Imunidade de rebanho – ao vacinar as crianças, contribuímos para a imunidade coletiva, ajudando a proteger aqueles que não podem ser vacinados por razões médicas;

Permite um desenvolvimento saudável e sem interrupções causadas por doenças evitáveis;

Ajuda a “treinar” o sistema imunológico das crianças, preparando-o para enfrentar futuras ameaças de maneira eficiente.

8. Crianças e adultos vacinados ainda podem pegar doenças preveníveis por vacinas? Qual é a diferença nos sintomas nesses casos?
P.M.: Sim, é possível, mas é importante entender como as vacinas funcionam. Nenhuma vacina oferece 100% de proteção, mas são altamente eficazes na redução do risco de infecção. Quando uma pessoa vacinada contrai a doença, geralmente os sintomas são mais leves e com menos complicações. Isso significa menos hospitalizações e uma recuperação mais rápida. Além disso, a carga viral tende a ser menor, o que pode reduzir a probabilidade de transmissão.

9. Quais vacinas fazem parte do calendário obrigatório para crianças no Brasil?
P.M.: O calendário infantil do PNI é bastante completo. Inclui:
BCG – protege contra formas graves de tuberculose, como a meningite tuberculosa;
Hepatite B – previne a infecção pelo vírus da hepatite B, administrada nas primeiras 12 horas de vida;
Pentavalente – combina cinco vacinas em uma, protegendo contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo b;
VIP (Vacina Inativada Poliomielite) – protege contra a poliomielite e é administrada em doses iniciais;
VOP (Vacina Oral Poliomielite) – usada para reforços, fortalecendo a proteção contra a pólio;
Rotavírus – protege contra infecções graves por rotavírus, que podem causar diarreia severa em crianças;
Pneumocócica 10-valente – protege contra infecções pneumocócicas, responsáveis por pneumonias e meningites;
Meningocócica C – previne a doença meningocócica causada pelo sorogrupo C;
Tríplice Viral – protege contra sarampo, caxumba e rubéola;
Hepatite A – previne a infecção pelo vírus da hepatite A;
Varicela – protege contra a catapora.

10. O que você diria para os pais que têm medo ou dúvidas de vacinar os filhos por conta de fake news ou desinformação?
P.M.: É completamente compreensível se preocupar com a saúde dos filhos. No entanto, é vital basear nossas decisões em informações precisas e científicas. Eu diria:
Confie em fontes oficiais/confiáveis, como o Ministério da Saúde e a OMS ou em seu pediatra;
Entenda que as vacinas passam por rigorosos testes de segurança e eficácia antes de serem aprovadas. Os benefícios superam em muito os riscos potenciais;

Vacinar é um ato de proteção coletiva, ajuda a proteger outras crianças e pessoas que não podem ser vacinadas por razões médicas;

Estar bem informado é a melhor maneira de combater informações falsas. Se algo parecer alarmante, verifique antes de acreditar ou compartilhar.

11. Quais são os mitos mais comuns em relação à vacinação?
P.M.: Existem vários que podem causar confusão e hesitação:
“Vacinas causam autismo” – este mito teve origem em um estudo descreditado e amplamente refutado. Extensas pesquisas demonstraram que não há ligação entre vacinas e autismo;

“É melhor pegar a doença do que se vacinar” – doenças evitáveis podem ter complicações graves e até serem fatais;

“Vacinas têm toxinas perigosas” – os ingredientes são seguros nas quantidades utilizadas e são rigorosamente testados para garantir que não causem danos;

“Já não precisamos mais de vacinas por causa da imunidade de rebanho” – só funciona quando uma alta porcentagem da população é vacinada. Sem isso, o risco de surtos aumenta;
“Vacinas sobrecarregam o sistema imunológico” – o sistema imunológico humano é perfeitamente capaz de lidar com as vacinas, que são formuladas para serem seguras mesmo para bebês.

12. Há grupos que não podem se vacinar? Como protegê-los?
P.M.: Sim, e é crucial que a comunidade se una para protegê-los. Esses grupos incluem bebês muito novos que ainda não têm idade para certas vacinas e indivíduos com certas condições de saúde, como deficiências imunológicas ou alergias severas a componentes da vacina, e pacientes em tratamento médico, como de quimioterapia, que podem ter sistemas imunológicos comprometidos.
Como protegê-los: manter a imunidade de rebanho – quando um grande número de pessoas está vacinado; incentivar boas práticas de higiene, evitar exposição durante surtos e conscientizar a sociedade sobre a importância da proteção coletiva.

Neste Dia da Imunização, aproveite para atualizar sua caderneta de vacinação e incentivar familiares e amigos a fazerem o mesmo.

 

Jornalista: Erika Junger

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