Médica alerta: infecções silenciosas podem evoluir para quadros graves se não forem diagnosticadas e tratadas precocemente (foto: Ronan Cortes/RioSaúde/HMRG)
Em meio às ações do Julho Amarelo — mês de conscientização sobre as hepatites virais —, a RioSaúde se une à campanha nacional para alertar a população sobre a importância da prevenção, testagem e tratamento dessas infecções silenciosas que podem causar danos graves ao fígado, muitas vezes só diagnosticadas em estágios avançados. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) dão conta que cerca de 296 milhões de pessoas viviam com hepatite B crônica e 58 milhões com hepatite C crônica em 2022. Para ampliar a conscientização sobre o impacto dessas infecções, a OMS instituiu o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais, celebrado em 28 de julho. A data homenageia o cientista Baruch Blumberg (1925–2011), descobridor do vírus da hepatite B e criador da primeira vacina contra a doença.
As hepatites virais são inflamações no fígado causadas por diferentes vírus. No Brasil, os tipos mais comuns são A, B e C. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2000 e 2022, mais de 700 mil casos foram registrados no país, sendo a hepatite C a mais prevalente. Silenciosas na fase inicial, essas infecções podem evoluir para cirrose, insuficiência hepática e câncer de fígado. Para apoiar o diagnóstico e o cuidado, o Ministério lançou este ano um painel inédito de monitoramento, que vai auxiliar estados e municípios na busca ativa de casos, no acompanhamento do tratamento e na identificação de lacunas na assistência, fortalecendo a meta de eliminação das hepatites B e C até 2030.
De acordo com a médica infectologista Paula Molinari, coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar e do Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, a vacinação é uma das principais estratégias para interromper a cadeia de transmissão. “A vacina contra a hepatite B está disponível gratuitamente pelo SUS e pode ser administrada em qualquer fase da vida. Os recém-nascidos recebem a primeira dose ainda nas primeiras 24 horas de vida. Adultos não vacinados também devem procurar as unidades de saúde, especialmente se estiverem em grupos de risco.”
Já a vacina contra a hepatite A, também disponível na rede pública, é indicada para crianças a partir de um ano e para pessoas com doenças hepáticas crônicas ou que integram grupos de risco.
Testagem precoce e acesso ao tratamento
O teste rápido para hepatites está disponível nas unidades da rede municipal e é essencial para o diagnóstico precoce. “Realizar a pesquisa de algum tipo de hepatite assim que ocorre a suspeita é importante, pois permite identificar a infecção antes que ela progrida para estágios mais graves, facilitando a abordagem e o tratamento”, explica Molinari.
As formas de transmissão variam conforme o tipo de vírus. A hepatite A é transmitida por via fecal-oral, geralmente pelo consumo de água ou alimentos contaminados. Já as hepatites B e C ocorrem principalmente por contato com sangue ou secreções, como em relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de agulhas, seringas ou objetos de uso pessoal, além de procedimentos com instrumentos não esterilizados.
“Outras medidas de prevenção incluem lavar bem os alimentos, higienizar as mãos com frequência, usar preservativos em relações sexuais e não compartilhar objetos cortantes ou de uso pessoal, como lâminas, alicates e escovas de dente. A esterilização adequada de materiais em procedimentos estéticos e de saúde também é essencial”, alerta a médica.
Segundo a infectologista, nem todos os casos exigem medicação. A hepatite A costuma ser autolimitada, ou seja, tem cura espontânea. Já as hepatites B e C podem se tornar crônicas e requerem acompanhamento médico contínuo. O SUS oferece tratamento gratuito, com medicamentos eficazes e protocolos atualizados, que garantem alta taxa de cura.
Informação salva vidas
A campanha Julho Amarelo visa conscientizar a população sobre essas infecções que, embora muitas vezes silenciosas, podem ter consequências graves à saúde. Falar sobre o tema, combater o estigma e garantir o acesso à informação e ao cuidado são estratégias fundamentais.
Jornalista: Erika Junger
Foto: Ronan Cortez
